Após décadas de perplexidade e frustração, o mundo ainda está tentando descobrir o segredo do sucesso do Vale do Silício. É claro que as cidades ao sul da baía de San Fracisco têm muitos talentos da alta tecnologia, mas isso não explica nada: esses ambiciosos engenheiros e inovadores poderiam encontrar emprego em praticamente qualquer lugar que escolhessem.
Você poderia listar os elementos que levaram tantos deles até o Vale, mas o mistério permanece. Sim, a área tem várias universidades, centros de pesquisa do governo e laboratórios comerciais. E uma start-up dificilmente encontraria circunstâncias mais encorajadoras: uma grande quantidade de trabalhadores altamente qualificados; acesso a capital de risco; e uma cultura altamente empreendedora, que assume riscos.
Mas o Vale do Silício não tem o monopólio de nenhum desses elementos. Na verdade, pequenos bolsões de inovação emergiram em outros locais dos Estados Unidos, como o triângulo de pesquisa da Carolina do Norte, e o corredor da rota 128, nos arredores de Boston. Ao mesmo tempo, vantagens comparáveis foram de pouca ajuda para áreas como o norte de Nova Jersey, com o lendário Bell Labs e grandes universidades, além da proximidade com Wall Street, a capital mundial de investimentos de alto risco.
Países de todo o mundo estão fazendo o melhor que podem parar copiar a magia do Vale. Pense na China, por exemplo, onde empresas de vários ramos da indústria aumentaram o financiamento de pesquisa e desenvolvimento em aproximadamente 64% todos os anos durante os últimos cinco anos, e o governo de Pequim está fazendo imensos investimentos no sistema de universidades do país. A esperança é que essa infusão de recursos produza um Vale do Silício – uma espécie de simbiose entre a indústria e o setor de pesquisa. O trabalho é massivo, mas até agora os resultados não são.
O que falta aos emuladores do Vale? Como autores de The Culture of Innovation: What Makes San Fracisco Bay Area Companies Different?, um estudo conjunto realizado em 2013 pelo Instituto Econômico do Conselho da Área da Baía e pela Booz & Co., nós tentamos responder essa pergunta. O que nós encontramos foi uma característica especial que distingue as empresas do Vale do Silício de empresas comuns: a capacidade de integrar suas estratégias de inovação com suas estratégias de negócio.
Essa única característica pode fazer a diferença entre sucesso e mediocridade – ou pior. Nossa pesquisa relatou que firmas do Vale do Silício têm uma probablidade quase quatro vezes maior que empresas médias dos Estados Unidos,presentes na lista anual Global Innovation 1000 da Booz & Co., de ter um alinhamento preciso de sua estratégia corporativa geral com sua estratégia de inovação. Não é coincidência, então, que a cultura corporativa de uma companhia do Vale do Silício também tenha uma tendência 2,5 vezes maior de se alinhar com a estratégia de inovação da empresa.
Uma coordenação desse tipo pode trazer grandes dividendos. De acordo com o estudo Global Innovation 1000, empresas que misturam suas estratégias de inovação com suas metas corporativas crescem com muito mais vigor que as outras, tanto em lucratividade quanto em valor líquido. E para destacar a importância da inovação, empresas do Vale do Silício têm uma probabilidade quatro vezes maior que as outras de modificar seu próprio status quo ao contratar novos talentos para desenvolver produtos.
Nossa pesquisa em andamento já identificou três estratégias básicas de inovação: o Vale do Silício é dominado pelo que chamamos de “buscadores de necessidades” [need seekers], empresas que se concentram em discernir as verdadeiras necessidades de seus usuários, tanto expressas quanto não-expressas; descobrir como atender essas necessidades; e então colocar o produto ou serviço necessário no mercado o mais rápido possível.
As outras duas categorias são os “condutores tecnológicos” [technology drivers] que recebem ordens dos departamentos de engenharia, e não dos clientes, e os “leitores de mercado” [market readers] que se baseiam em uma abordagem de desenvolvimento incremental e rápido. De acordo com nossa pesquisa, os buscadores de necessidades cresceram consistentemente mais que os outros dois em um período de cinco anos, tanto em lucros brutos quanto no valor da empresa.
Nossa pesquisa também mostra que os buscadores de necessidades tendem a formular suas decisões sobre estratégias de inovação nos níveis mais altos da empresa. Então eles se certificam de comunicar essa estratégia para toda a organização, e administram seus projetos de P&D rigorosa e impiedosamente. Buscadores de necessidades em geral – e empresas do Vale do Silício em particular – reúnem uma cultura de forte identificação com o cliente e paixão sincera pelos produtos e serviços da empresa. Ao mesmo tempo, existe menos preconceito contra produtos que “não foram inventados aqui”, consequentemente tornando a empresa mais aberta a boas ideias, não importando sua origem.
Um total de 46% das empresas do Vale do Silício segue esse modelo, contra apenas 28% das empresas dos Estados Unidos na lista Global Innovation 1000. Talvez isso se deva à ética de capital de risco do Vale, que recompensa empresas com planos estritamente focados em negócios e em antecipar as necessidades dos clientes.
E esse parece ser o segredo tão procurado. As empresas que se situam no Vale usam uma estratégia que exige excelência, põem as necessidades dos clientes no centro da inovação e recompensam novos talentos e ideias acima de tudo. Até agora essa combinação especial de recursos e ideais se provou difícil, senão impossível, de imitar em qualquer outro lugar. Mas a busca continua mesmo assim. O prêmio é grande demais para ser ignorado.
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